Revista Bibliomar

Prolegômenos para uma biblioteca de mitos: uma abordagem estruturalista com o povo Ramkokamekrá-Canela

Luiz Felipe Sousa Curvo — 2025-02-23

O texto propõe uma reflexão teórico-metodológica para a criação de um acervo de mitos na biblioteca do povo Ramkokamekrá-Canela inspirada pela análise estrutural de Claude Lévi-Strauss, presente na série de trabalhos das Mitológicas, em especial, na obra O Cru e o Cozido, que inclui mitos Jê-Timbira. A proposta considera os mitos como dinâmicos, em constante transformação pelo espírito humano, e busca um método para sua organização e registro em um acervo que se oriente pela lógica estrutural dos próprios mitos. Utilizando conceitos da Biblioteconomia, como as leis de Ranganathan, estabelece um paralelo entre a classificação e a indexação biblioteconômica e as "armações", "códigos" e “mensagens”, instrumentos analíticos que Lévi-Strauss utiliza no estudo dos mitos para a identificação de padrões e conexões entre eles, oferecendo um modelo para sua organização e recuperação que pode ser apropriada por diversos aparelhos culturais, sendo explorada neste trabalho a potencialidade da Biblioteca Canela, uma biblioteca indígena criada em 2022. Assim, o objetivo do trabalho é, a partir de uma análise dos mitos e suas possibilidades enquanto acervo, propor uma forma de organização que permita a coleta, o armazenamento, a catalogação, a navegação e a recuperação desses mitos dentro de um sistema de informação, a partir de uma abordagem estruturalista, enfatizando o papel dos mitos para a cultura de um povo, e sua relevância para uma biblioteca indígena em diálogo intercultural. Relacionando a mitologia e organização social, destaca-se a importância dessas narrativas na continuidade simbólica da identidade e da ordem social dos povos indígenas. Este planejamento inicial de um acervo de mitos não apenas amplia os horizontes da documentação cultural, mas também proporciona uma abordagem inovadora e dinâmica para a produção de registros de memória da literatura oral mítica.

Memória, cultura e identidade: a leitura literária na promoção de diálogos para a diversidade

Guilherme Fani Oliveira Machado da Costa — 2025-02-20

A violência colonial produzida na formação do Brasil normatizou subjetividades que perduram no imaginário coletivo do povo brasileiro. A imposição das formas de vida enquanto pessoa preta foi determinada pelo colonizador, entretanto, esta imposição vem sendo reformulada pelas próprias pessoas pretas que tomam posse de suas narrativas e de seu direito de dizer o que e como são. Assim, este artigo objetiva discutir as potencialidades da leitura literária de narrativas afro-referenciadas e como estas contribuem para a construção de memórias positivadas. Conceituando leitura literária, educação antirracista e afro-centrada, “desterritorialização” ou “deslocamento” provocados pela interrelação com a literatura, a partir dos estudos de Petit (2013), Saldanha e Alencar (2022), Cuti (2010) e Carine (2023). Partindo da questão “Como a leitura literária afro-centrada contribui na construção de memórias e identidades a partir de diálogos sobre pertencimento étnico-racial?”, propõe-se a sistematização para mediação de leitura do título Julian é uma sereia, da autora Jessica Love. Metodologicamente, a pesquisa define-se como social, com delineamento exploratório e descritivo, utilizando pesquisa bibliográfica como procedimento técnico, apresentando as seções de introdução; leitura literária e os deslocamentos de si; a mediação do texto literário na construção de memória e identidade; as potencialidades em Julian é uma sereia e conclusões possíveis. Concluindo que a leitura literária é um veículo latente que promove diálogos sobre a relação memória-identidade, afirmando a pluralidade e as potencialidades de ser e existir enquanto pessoa preta e ampliando repertórios éticos e estéticos dos leitores que enveredam por narrativas que transgridem a hegemonia colonial.

Desafios e perspectivas na organização e controle de acervo frente às necessidades de usuários: estudo de caso na Biblioteca Central Julieta Carteado – Universidade Estadual de Feira de Santana

Girleide de Oliveira Souza — 2025-02-20

A necessidade em satisfazer as demandas por informações precisas e confiáveis tem sido uma das preocupações das unidades informacionais na atualidade. Neste sentido, ressalta-se o uso de documentos gerenciais para traçar estratégias de melhorias no atendimento às solicitações de usuários. O objetivo deste artigo é analisar como os relatórios de gestão de acervos contribuem para o processo decisório relacionado à organização e ao controle do acervo físico e digital, visando satisfazer adequadamente as necessidades de usuários em relação à busca e acesso à informação. A pesquisa se caracteriza como descritiva e documental, e utiliza o método do estudo de caso, a partir da técnica de observação direta e participante, na Biblioteca Central Julieta Carteado, integrante do Sistema Integrado de Bibliotecas da Universidade Estadual de Feira de Santana-Bahia. Tem como amostra o Relatório 14 - Relação de materiais lidos que não foram carregados na definição inicial dos parâmetros do inventário, do Sistema Pergamum, que apresenta dados sobre como os materiais do acervo estão disponíveis no sistema, e devem ser localizados nas estantes pelos usuários. Os resultados evidenciam a importância da análise contínua de relatórios gerenciais, ao possibilitar a comparação dos dados apresentados pelo sistema com a realidade física do acervo, refletindo na prática sua organização e controle. Assim, torna-se essencial para a tomada de decisões assertivas a constante verificação do uso e eficácia dos campos preenchidos nos relatórios, de modo a promover a utilização efetiva dos recursos pela comunidade acadêmica.

As práticas pedagógicas no processo de alfabetização na Primeira República (1889-1930)

Marcia Ellen Moraes dos Santos Lemos — 2025-02-20

Neste artigo examina-se as práticas pedagógicas no processo de alfabetização na Primeira República no Brasil, buscando-se pistas para compreender o papel dos métodos de ensino tendo em conta a sua historicidade; alfabetização que se foi limitada à decodificação de letras e palavras, expandiu-se para incluir a compreensão, interpretação e produção de textos. Visa-se analisar práticas e métodos de ensino nos processos da alfabetização como ferramenta política e nacionalizadora, que foi prevista nos documentos normativos no período, enfatizando-se identificar desafios e contributos para a concretização de uma educação de qualidade. Utiliza-se o método histórico na investigação, auxiliando-nos nas pesquisas bibliográfica e documental: na primeira, ao explorar-se concepções sobre alfabetização (Mortatti, 2004; Cagliari, 1999), estratégias de ensino (Delors, 1996; Roldão, 2009) e ideologias em relação à docência (Gadotti, 2006; Aranha, 2001); na segunda, referenciando registros educacionais e materiais pedagógicos a fim de compreender os contextos sociais, políticos e culturais que ecoaram nas práticas pedagógicas no Brasil: a análise das estratégias de ensino propostas na Primeira Conferência Interestadual de 1921 tomada como fonte histórica, revela a importância da inovação da prática pedagógica e da modernização do ensino que enfatiza a aprendizagem ativa, a contextualização dos conteúdos e a formação cívica. Evidencia-se a necessidade de aprimorar métodos de ensino e a colaboração entre as esferas federal e estadual para erradicar o analfabetismo; trajetória da alfabetização como processo de transformação constante influenciado por mudanças sociais, culturais e legislativas, que aponta para a sua evolução em função das necessidades e desafios no universo da escola.

Análise da influência governamental nas taxas de comercialização e uso inadequado de Hidroxicloroquina durante a pandemia da COVID-19, entre o período de 2019-2020, no Brasil

Jackeline de Freitas Nunes — 2025-02-20

O estudo sobre o uso adequado de medicamentos para garantir tratamentos eficazes e promover o bem-estar dos pacientes, a partir do acesso a informação apropriada, tem como objetivo analisar a influência da disseminação de informação governamental nas taxas de comercialização e automedicação de medicamentos específicos, com destaque para a Hidroxicloroquina durante a Pandemia da COVID-19 que ocorreu no período de 2019 a 2020, no Brasil. Para tanto, realizou-se pesquisa bibliográfica com recorte temporal de publicações nos anos de 2020 e 2021, traçando uma cronologia das declarações governamentais sobre o uso dos medicamentos no tratamento da COVID-19. Os resultados mostraram que as ações e políticas do governo federal, exerceram influência significativa sobre a disponibilidade e o consumo desses fármacos, destacando que as intervenções descoordenadas culminaram em um em um aumento na demanda e consumo, frequentemente carentes de embasamento científico, causado pela desinformação. Conclui-se que a informação adequada para a orientação sobre os perigos da automedicação torna-se vital para a segurança da população e a integridade dos sistemas de saúde em tempos de crise.

Editorial

Diana Rocha da Silva — 2025-02-20

Expediente

Andressa Silva Sousa — 2025-02-20

Biblioterapia como prática de socialização em um lar de idosas: experiência do PET Biblioteconomia

Sabrina Kelly Costa do Nascimento — 2025-02-20

O envelhecimento humano pode ser marcado por mudanças negativas decorrentes do estilo de vida de cada pessoa, acarretando declínio cognitivo que prejudica funções como atenção, concentração, memória, raciocínio e demais complicações que comprometem a autonomia. Em alguns casos, dependendo do estilo de vida do idoso, a velhice pode ser acompanhada por um desinteresse pela leitura. Assim, a presente pesquisa objetiva registrar a importância da contação de história e do ato de ler na construção da criticidade e do amparo emocional em idosas. Trata-se de uma pesquisa exploratória, que combina a pesquisa bibliográfica e um estudo de campo de natureza qualitativa. O estudo foi realizado por meio de uma oficina de leitura “Café com Fofoca”, com a participação de sete idosas na Associação das Senhoras da Caridade São Vicente de Paulo, em São Luís-MA. Os resultados indicam que as idosas ingressaram no lar principalmente em decorrência de algumas dificuldades, como abandono familiar e falta de recursos financeiros. Muitas relataram sentir-se distantes do sentimento de “felicidade” ou nem lembram do último “momento feliz que tiveram”, o que contribui para uma sensação de desequilíbrio e desarmonia. Outro ponto destacado foi a preferência da maioria por ouvir histórias em vez de contá-las. Logo, foi possível registrar a importância da contação de história e do ato de ler na construção da criticidade e do amparo emocional em idosas. Conclui-se com a reflexão sobre a necessidade da institucionalização de programas de práticas de biblioterapia voltados para idosos, com a participação da comunidade científica, desenvolvendo pesquisas que visem contribuir para a qualidade de vida dos idosos.