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Editorial Iluminus
O número que a Revista Iluminus apresenta, reúne reconhecidos pesquisadores em seus 13 textos, contando com 3 artigos na seção Século XVIII, 5 artigos na seção dossiê, 3 artigos na seção área livre, além de uma tradução e uma poesia.
O primeiro artigo da seção Século XVIII, Formação moral e constituição da sociabilidade no Emílio de Rousseau: a educação das paixões, de Sophia Calil Breymaier e Carlota Boto abre este número, trazendo uma interpretação acerca do filósofo Jean-Jacques Rousseau, importante filósofo iluminista que se dedicou a pensar não só a sociedade do século XVIII e o modo como viviam os homens, escravos uns dos outros e de suas próprias paixões, mas que também se debruçou a pensar a natureza, a condição humana e a educação. Tendo como base o estudo do Segundo Discurso e do Livro IV do Emílio ou da educação, o artigo analisa a possibilidade da formação virtuosa das paixões no pensamento educacional de Rousseau. A hipótese é de que a gênese da sociabilidade e o modelo antropológico apresentados no Segundo Discurso, o escrito político-filosófico, servem como quadro para se pensar, na obra pedagógica, a educação moral do menino Emílio e a constituição de uma sociabilidade agregadora pela educação do amor-próprio para seu lado positivo de maneira conjugada à piedade.
A Dialética das Paixões em Rousseau: Entre Natureza, Cultura e Virtude, de Genildo Ferreira da Silva propõe analisar as principais teses de Jean-Jacques Rousseau acerca das paixões humanas, investigando suas transformações ao longo do processo civilizatório e sua centralidade na constituição da existência moral e social. A partir de uma releitura crítica do sistema cartesiano das paixões, Rousseau elabora uma sociologia dos sentimentos que redefine a relação entre natureza, cultura e moralidade. A reflexão rousseauniana destaca-se, assim, tanto pela valorização da piedade natural quanto pela denúncia das paixões artificiais engendradas pela vida social, configurando um pensamento radicalmente inovador no século XVIII.
Daniel da Silva Campos e Cláudio Araújo Reis, escrevem o artigo Liberdade e Autonomia: um ensaio sobre a influência do Contrato Social de Rousseau na filosofia prática kantiana que trata do pensamento filosófico de Rousseau e Kant. No que tange ao primeiro, a exposição de sua filosofia política, fundamentada na preservação inevitável da liberdade e no pacto social; em relação a Kant, o foco é dado a sua filosofia prática, tratando do imperativo categórico e das regras morais da razão que estão no alicerce da ética kantiana, assim como o conceito de reino dos fins. O texto segue uma linha narrativa, mostrando como a filosofia contratualista de Rousseau foi importante para o desenvolvimento da Ética de Kant, relacionando conceitos como leis, vontade, dever e razão, dando uma relevância maior aos conceitos de liberdade e autonomia. Uma pesquisa fundada em História da Filosofia, Ética e Filosofia Política.
Na seção dossiê temático, com o título Sobre os usos das ideias Iluministas na América Latina e no Caribe, organizado pelos professores Daniel Omar Perez, Flávio Luiz de Castro Freitas, Luciano da Silva Façanha e Zilmara de Jesus Viana de Carvalho, a Iluminus apresenta 5 artigos que tratam sobre os usos das ideias Iluministas na América Latina e no Caribe, pois, como bem sabemos, além das transformações das estruturas políticas que regulamentavam a nação francesa, em fins do Século XVIII com a Revolução Francesa, ocorreram várias modificações das estruturas de pensamento político, social e cultural da Europa, e, nesse sentido, o iluminismo pode ser considerado o mais importante ideário empregado nessas inéditas reivindicações e mudanças. Contudo, os ideais iluministas não se restringem ao ambiente europeu, mas, há uma reverberação na América Latina e no Caribe, onde as lutas por autonomia romperam com as amarras do pacto colonial. Mesmo tendo a busca por igualdade e liberdade como ponto em comum, não podemos simplesmente achar que as populações americanas se deram ao simples trabalho de copiar um ideário estrangeiro. Afinal de contas, os agentes políticos e sociais da América Latina e do Caribe são outros. Nesse sentido é que apresentamos um dossiê temático que possa trazer ao leitor, análises da repercussão e utilização das ideias iluministas nesses lugares, pois, vemos que a sua efetivação não pode fundamentar transformações que de fato transformassem a liberdade e a igualdade em condições amplamente partilhadas. Pelo contrário, alguns dos problemas de idade colonial ainda se mostram vivos na debilidade de nossas instituições políticas, nos vários entraves econômicos que nos afligem, e no ainda vivo interesse em buscar modelos de resolução pensados em outras civilizações. Assim, oferecemos ao leitor um panorama da diversidade de temas que surgem.
La breve vida del régimen del Laissez Faire en Cuba (1898-1903), de Jorge Renato Ibarra Guitart explica como estava a situação de Cuba sob o domínio do poder colonial espanhol, em que as liberdades comerciais foram desproporcionalmente restringidas e, após sua queda, durante o período da primeira ocupação dos EUA, as tarifas comerciais flexíveis foram mantidas. Naquela época, Cuba experimentou um boom em sua economia, apesar de não receber créditos ou outras ajudas econômicas. No entanto, os Estados Unidos perceberam que, sob essas disposições tarifárias, era muito difícil dominar o comércio com Cuba e que outras potências europeias, como a Grã-Bretanha, estavam lhe dando forte concorrência. Por essa razão, decidiram impor a Cuba um Tratado de Reciprocidade Comercial que lhes concederia benefícios tarifários exclusivos.
Em seguida, o artigo de Lucas Moreira e Sandro Teixeira Moita intitulado O “despertar” das Américas: o Iluminismo Militar e o projeto de Independência de Simón Bolívar em que examinam a influência do Iluminismo e do pensamento militar no processo de independência da América Hispânica, com foco particular na visão e liderança de Simón Bolívar. Estabelecendo paralelos com contextos europeus, especialmente a Revolução Francesa, o texto explora como o conceito de nação evoluiu a partir dos ideais iluministas, passando da lealdade tradicional às monarquias para a emergência da soberania popular. A liderança de Simón Bolívar é analisada dentro desse contexto, enfatizando como suas campanhas militares em batalhas como Boyacá, Carabobo e Ayacucho foram impulsionadas por ideais nacionalistas e pelo desejo de uma América Hispânica unificada. O texto apresenta, de forma sucinta, como Bolívar buscou implementar ideias inspiradas pelo Iluminismo, com uma bandeira de “libertador”, mas enfrentou resistência de elites locais e interesses regionais, que fragmentaram seus esforços. O artigo argumenta que os movimentos de independência na América Hispânica não expressam apenas transformações políticas, culturais e econômicas, mas também empreendimentos de natureza militar. Por fim, o estudo buscou deixar uma reflexão sobre o legado e a figura de Bolívar, bem como a natureza multifacetada dos processos de independência na América Hispânica, que combinou princípios filosóficos com as duras realidades da guerra.
No texto, El iluminismo de Flora Tristán: la abolición de la propiedad privada, las mujeres somos seres humanos y la educación para los desposeídos, de Naomi Yoko Hernández-Orozco, a autora reflete, por meio de categorias narrativas, as influências do Iluminismo no pensamento de Flora Tristán, uma operária revolucionária franco-peruana da primeira metade do século XIX. Rever as ideias de Rousseau e as críticas que lhe foram feitas por uma das mais importantes mulheres iluminadas – reconhecidas pelo feminismo – Mary Wollstonecraft. Por meio de três temas importantes: a abolição da propriedade privada, as mulheres são seres humanos e a educação para os despossuídos. Tristán faz essa abordagem, para nos situar, ao longo de suas obras, em sua própria perspectiva de mulher despossuída, mestiça (de raízes peruanas) e ativista; Tristán afirmava os postulados de uma ilustração crítica da modernidade capitalista, a partir da perspectiva das mulheres, dos povos indígenas e dos despossuídos do mundo, juntando-se assim à luta política dos movimentos sociais de seu tempo.
Adriano Soares de Sousa e Gonçal Mayos Solsona escrevem o artigo A Influência Iluminista na Inconfidência Mineira: Ideais Revolucionários no Brasil Colônia em que analisam a influência do Iluminismo na Inconfidência Mineira, destacando conceitos como liberdade, república e autodeterminação, bem como o impacto das Revoluções Americana e Francesa no pensamento dos inconfidentes. A pesquisa busca evidenciar de que maneira essas ideias moldaram o discurso político e as ações dos líderes do movimento, como Tiradentes, e qual foi a resposta da Coroa portuguesa diante da tentativa de emancipação colonial.
La Ilustración en los Andes: Recepción crítica y apropiación cultural en el movimiento de Túpac Amaru II (1780-1783), artigo escrito por Iván Adolfo Natteri Romero que demonstra relevância na investigação ao examinar a influência, recepção e ressignificação das ideias iluministas em diálogo com a matriz do pensamento indígena, no contexto da revolução liderada por Túpac Amaru II. O impacto do pensamento ocidental em contextos colonizados revela-se, paradoxalmente, como instrumento de libertação – desde que articulado às capacidades semânticas e práticas dos sujeitos receptores. Assim, torna-se fundamental investigar os circuitos intelectuais que permitiram a assimilação crítica dessas ideias por figuras históricas como Túpac Amaru II, cuja ação reconfigurou estratégias, cosmovisões e sensibilidades subjacentes a grandes projetos de transformação social. Seu legado, por sua vez, ecoa tanto nas insurgências posteriores quanto nas lutas contemporâneas.
Na seção área livre, contamos com 3 artigos significativos por percorrem os caminhos da escrita, da literatura e da estética. O primeiro, Correspondência entre filosofia e literatura, de Francisco Valdério, propõe uma discussão acerca da relação entre filosofia e literatura em três momentos: na constituição do problema de um elo que remonta ao debate em torno do binômio mito-logos, indo prospectivamente de Platão ao mundo de Homero; na retomada contemporânea do problema que situa a caracterização da própria filosofia como uma modalidade literária ao fazer uso deliberado dos recursos linguísticos típicos dessa região poética do pensamento; no irrenunciável aporte da literatura em socorro da filosofia, a fim de que esta possa responder adequadamente a determinados problemas deixados em aberto pela tradição filosófica – nesse caso, o recurso do qual o autor se vale é a hermenêutica filosófica de Paul Ricoeur deixando marcada em todas as incursões, a indissociável presença dos elementos que compõem uma e outra destas dimensões da experiência de compreensão histórica da existência humana, filosofia e literatura, no esforço de sublinhar a pertinente correspondência entre ambas.
Em Chasing Butterflies: análise psicológica de um sequestrador em O Colecionador (2018), De John Fowles, dos autores Yasmine Sthéfane Louro da Silva, André Luiz Fontenele Machado e Luizir de Oliveira, é analisado a construção psicológica de Frederick Clegg como um sequestrador serial em formação em O colecionador (2018), de John Fowles. Como metodologia, utilizam a teoria das vozes dialogizadas de Bakhtin (1998), denominada sob o termo chave de Plurivocalismo Bakhtiniano, e como resultado, os autores pontuam que, após ganhar na loteria, Frederick fez da fortuna uma arma contra a sua primeira vítima, Miranda Gray, por quem se convence de estar genuinamente apaixonado. Por fim, afirmam que Frederick se encantou pela ideia que criou de Miranda, – idealização essa que o frustra quando tem que conviver intimamente com uma mulher que o odeia.
Luís Inácio Oliveira Costa, no artigo Platão e Nietzsche: os dilemas da escrita em dois momentos, com direito a dedicação à professora Jeanne Marie Gagnebin, objetiva discutir a problemática da escrita tal como ela se impõe como questão filosófica tanto em razão da transmissão cultural da filosofia ligada ao texto escrito quanto, por via de consequência, em razão da apresentação da filosofia em formas literárias e, portanto, da relação complexa e por vezes tensa da filosofia com a escrita e a literatura. Nesse sentido, o trabalho recorta esta problemática da escrita em dois momentos emblemáticos da história da filosofia: a assim chamada crítica platônica da escrita, com toda a ambiguidade de que ela se reveste no pensamento de Platão, e a crítica da cultura de Nietzsche em sua articulação com a sua ulterior crítica da metafísica ocidental e com a sua leitura dos gregos antigos e da figura de Sócrates.
Na seção tradução, os tradutores ressaltam que os fragmentos da obra rousseauniana já receberam tratamentos bastante diversos. As empreitadas editoriais que estiveram catalogando e organizando tais textos o fizeram a partir de abordagens distintas, uma vez que este não é um material de fácil organização, nem permite que sejam dispostos por meio de uma divisão lógica ou sistemática. Os tradutores Gabriel Telles dos Santos Burgarelli e Breno Bertoldo Dalla Zen apresentam uma contribuição com a tradução do texto Do Estado de Natureza, de Rousseau, reunido e disposto entre os Fragmentos Políticos na edição das Œuvres complètes de Jean-Jacques Rousseau da Gallimard-Pléiade – edição na qual se basearam para realizar a tradução. Destacam na apresentação, breves menções à organização editorial de outras publicações em que os mesmos textos haviam aparecido anteriormente, sob modelos distintos de compilação, devidamente justificada por cada um dos editores, como Streckeisen-Moultou (Correspondace inédites) e Charles Vaughan (The political writings), e também, posteriormente, como é o caso de Eigeldinger (Œuvres complètes da Slatkine). Apostando no enfoque a um texto não tão citado ou debatido, os tradutores pretendem suscitar uma difusão de ideias sobre a pesquisa e a interpretação da obra rousseauniana como um todo.
E, na seção Poesia, Ofega, Logo Explode, de Marcelo Calderari Miguel, que antes explica que a expressão poética se impõe pelo uso audacioso de imagens que misturam termos cósmicos com metáforas do cotidiano, criando uma tensão entre a vastidão do universo e a intimidade da experiência individual. A forma como o poema articula o pulsar inexorável dos acontecimentos com a crítica a sistemas frios e impiedosos, reflete uma força quase rebelde – sugerindo que, mesmo diante da inevitabilidade da desumanização, há sempre um impulso para a transformação e a revolução interna. Seu final, que carrega duplo sentido e impacto, enfatiza a ideia de que a verdadeira resistência se manifesta mesmo quando tudo parece se desintegrar.
Dessa forma, a Revista Iluminus apresenta um número especialíssimo em seus 13 textos, pois os artigos do Século XVIII, os artigos do dossiê e da área livre, juntamente com a tradução e a poesia trazem informações e originalidade nas reflexões interdisciplinares capazes de potencializar a cultura, a sociedade e a pesquisa filosófica dos leitores. Então, boa leitura!
Os Editores
Luciano da Silva Façanha
Flávio Luiz de Castro Freitas
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