O espaço rural ou campestre na poética ceciliana
Palavras-chave:
Representação. Espaço rural ou campestre. Paisagem. Cecília Meireles. Geografia Humanista Cultural.Resumo
O espaço rural ou campestre até o Romantismo foi muito explorado pelos poetas, perdendo destaque como
elemento espacial do fazer poético com o advento da era moderna, sobretudo com o surgimento do Modernismo
no século XX, no qual a cidade é o espaço escolhido para situar as experiências do eu-lírico. Em
face desse quadro da poesia moderna, este trabalho busca analisar a relação experiencial do eu ceciliano
com o espaço rural ou campestre, para evidenciar que, apesar do grande interesse dos modernistas pela
atmosfera citadina, alguns poetas, como Cecília Meireles, souberam explorar temas já consagrados pela
literatura. A poesia de Cecília Meireles, como salienta Damasceno (1958), transita com destreza entre a
tradição e a modernidade, o que lhe confere, segundo Mário de Andrade (1958), ecletismo, podendo dessa
maneira escolher com rara independência o que de melhor se ajusta à sua poética. O espaço rural ou campestre
possui grande relevância na poética ceciliana, sendo resgatado de maneira seminal em Romanceiro
da Inconfidência (1965). Para analisar a relação experiencial do eu ceciliano com esse espaço, os estudos
da Geografia Humanista Cultural mostram-se muitos pertinentes, visto que, a partir dos conceitos de “geograficidade”,
cunhado pelo geógrafo Eric Dardel (2011), e de “topofilia”, de acordo com a perspectiva
experiencial de Yi-Fu Tuan (2012; 2013), podemos perceber de que forma o eu ceciliano experiencia o
espaço rural ou campestre. Cabe ressaltar que, além de destacarmos o conceito de “espaço”, discutiremos
também o conceito de “paisagem” que abarca todos os espaços estudados por Dardel, pois “a paisagem é a
geografia compreendida como o que está em torno do homem, como o ambiente terrestre” (2011, p. 30). É
na paisagem que o Homem pode descobrir-se ligado intimamente à Terra e habitá-la. Assim, nosso trabalho,
em função da interdisciplinaridade entre literatura, geografia e filosofia, em especial a fenomenologia,
visa a essa relação que emerge na poesia ceciliana.
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