SOBRE O NOVO QUALIS - IMPORTANTE E URGENTE
O SENTIDO DA DECADÊNCIA II:
Será o novo Qualis mais uma porta que se abre para o abismo?
O novo sistema de avaliação Qualis, que será implementado para o ciclo 2025-2028, traz mudanças significativas em relação ao sistema anterior. Aqui está uma explicação detalhada de como ele funcionará. Diferente do sistema anterior, que avaliava a qualidade das revistas científicas, o novo Qualis focará na avaliação dos artigos publicados. Isso significa que a classificação será feita com base na qualidade e impacto dos artigos individuais, e não mais no periódico onde foram publicados. O novo sistema adotará três procedimentos distintos para a classificação dos artigos. Cada área do conhecimento poderá escolher e combinar esses métodos conforme suas especificidades.
O primeiro procedimento continuará a utilizar indicadores bibliométricos, como o número de citações, para avaliar a relevância dos artigos. No entanto, a classificação recairá diretamente sobre os artigos e não sobre as revistas. O segundo procedimento incorporará indicadores diretos dos artigos, como índices de citação e análises altimétricas (menções em sites e redes sociais, número de downloads), além de critérios qualitativos relacionados aos periódicos. Isso permitiria uma avaliação mais detalhada e precisa da contribuição de cada artigo. O terceiro procedimento focará em uma análise qualitativa dos artigos, considerando fatores como a pertinência temática, o avanço conceitual e a contribuição científica do estudo. Esse método visa identificar a qualidade intrínseca de cada artigo, independentemente do impacto bibliométrico. Com a introdução desses três procedimentos, o novo Qualis permite uma avaliação mais precisa e flexível da produção científica?
Artigos publicados na mesma revista podem receber classificações diferentes, refletindo suas contribuições específicas. A CAPES enfatiza que essas mudanças visam aprimorar a avaliação dos programas de pós-graduação, promovendo a excelência acadêmica e o impacto social da pesquisa brasileira. Será? Segundo a Capes a implementação bem-sucedida dessas mudanças demandará um amplo debate na comunidade científica, envolvendo pesquisadores, gestores de programas de pós-graduação e editores de periódicos científicos. Porém, o novo sistema de avaliação Qualis tem recebido diversas críticas da comunidade acadêmica. Uma das críticas mais frequentes é que o novo sistema pode incentivar uma cultura onde a qualidade dos artigos pode ser comprometida em prol do número de publicações. Isso pode levar a uma saturação de artigos de baixa qualidade, prejudicando a produção científica. Há preocupações sobre o equilíbrio entre os critérios quantitativos (como índices de citação) e os critérios qualitativos (como a contribuição científica do artigo). Alguns especialistas argumentam que o foco excessivo em métricas quantitativas pode desvalorizar a importância da pesquisa de alta qualidade que não necessariamente gera muitas citações.
Outra crítica é que o novo sistema pode não ser adequado para todas as áreas do conhecimento. Áreas mais especializadas ou emergentes podem ser prejudicadas por métricas que não refletem adequadamente a relevância e impacto de suas pesquisas. Há também preocupações sobre a pressão para internacionalizar a produção científica. O novo sistema pode favorecer periódicos internacionais de alto impacto, o que pode dificultar a visibilidade e a valorização da pesquisa publicada em periódicos nacionais. A implementação do novo sistema apresenta desafios significativos, incluindo a necessidade de um amplo debate e consenso na comunidade científica brasileira. A CAPES enfatiza que a participação ativa dos pesquisadores, gestores de programas de pós-graduação e editores de periódicos é essencial para o sucesso da reforma.
A dependência de índices de citação e análises altimétricas pode resultar em uma avaliação superficial da qualidade dos artigos. Tais métricas podem ser manipuladas ou inflacionadas artificialmente, seja através de auto-citações ou por práticas questionáveis de publicação. Além disso, altos índices de citação nem sempre correlacionam com a relevância ou qualidade do trabalho, podendo favorecer pesquisas de modismo ou áreas com alta visibilidade imediata. As análises altimétricas, que consideram menções em sites e redes sociais, são particularmente problemáticas. A presença digital de um artigo pode ser altamente influenciada por fatores extrínsecos à sua qualidade científica, como campanhas de marketing, popularidade dos autores, ou até mesmo eventos virais. Isso pode promover uma ciência populista em detrimento de pesquisas profundas e inovadoras que não recebem tanta atenção online.
Áreas do conhecimento menos populares ou emergentes podem ser prejudicadas. A dependência em métricas quantitativas e altimétricas não considera a natureza interdisciplinar e o ritmo diferente de citação em várias disciplinas. Por exemplo, áreas de ciências humanas e sociais frequentemente têm ciclos de citação mais longos comparados às ciências exatas e biológicas. Isso poderia desvalorizar trabalhos significativos nessas áreas. Embora a incorporação de critérios qualitativos seja um passo na direção certa, o processo de avaliação qualitativa pode ser altamente subjetivo e suscetível a vieses. A falta de transparência e padronização nos critérios qualitativos pode levar a avaliações inconsistentes e injustas, prejudicando a imparcialidade do sistema. O foco em métricas de citação e altimetria pode estimular uma cultura de “publicação pela publicação”, onde a quantidade prevalece sobre a qualidade. Isso pode levar à proliferação de artigos de baixa qualidade, saturando o campo e dificultando a identificação de pesquisas verdadeiramente impactantes e inovadoras. A complexidade do novo sistema pode gerar confusão e dificuldades na sua implementação. Os pesquisadores podem encontrar dificuldades em entender e se adaptar às novas regras, e a ausência de um período de transição adequado pode agravar esses problemas. Isso pode resultar em frustração e desmotivação entre os acadêmicos.
Em resumo, o novo Qualis, ao adotar indicadores diretos dos artigos como índices de citação e análises altimétricas, levanta críticas severas e justas. Este procedimento, que incorpora menções em sites, redes sociais e número de downloads, pode transformar a pesquisa acadêmica em uma busca incessante por "curtidas" e "citações", semelhante à lógica das redes sociais. Este sistema pode transformar a produção científica em uma busca pela popularidade. Assim como nas redes sociais, onde os usuários buscam curtidas e seguidores, os pesquisadores agora podem ser tentados a buscar citações e menções para aumentar sua visibilidade. Isso pode desviar o foco da qualidade e relevância científica, privilegiando artigos que atraem mais atenção, mesmo que não sejam os mais rigorosos ou inovadores. A pressão por citação e menções pode levar à produção de artigos mais sensacionalistas, que buscam atrair a atenção do público e da comunidade acadêmica, em vez de contribuir com pesquisas sólidas e metodologicamente rigorosas. Isso pode resultar em uma ciência mais superficial, com menos foco na profundidade e na contribuição real ao conhecimento.
Áreas de pesquisa menos populares ou emergentes podem ser prejudicadas por esse sistema. Assim como nas redes sociais, onde certos tipos de conteúdo tendem a ser mais populares, certos campos de pesquisa podem receber mais citações e menções, enquanto áreas igualmente importantes, mas menos visíveis, podem ser negligenciadas. Isso cria um ambiente acadêmico desigual e injusto onde há práticas para aumentar artificialmente a popularidade (compra de seguidores, curtidas, etc.), o sistema de citação e menções pode ser suscetível a manipulações. Práticas como autocitação excessiva, acordos entre autores para citar mutuamente seus trabalhos e outras formas de inflacionar artificialmente as métricas podem se tornar comuns, comprometendo a integridade do sistema.
A pressão para acumular citações e menções pode levar a um aumento significativo no estresse e na ansiedade dos pesquisadores, impactando negativamente sua qualidade de vida e bem-estar. O foco excessivo em métricas pode desvalorizar o trabalho acadêmico genuíno e a paixão pela pesquisa, transformando a academia em uma corrida desenfreada por números. O novo Qualis, ao incorporar indicadores diretos dos artigos, corre o risco de importar para a pesquisa acadêmica a lógica das redes sociais, onde a busca por curtidas e popularidade muitas vezes supera a busca pela qualidade e autenticidade. Será uma nova porta que se abre para a decadência da pesquisa brasileira, em especial, as Ciências Humanas?
Prof. Dr. Wellington Lima Amorim