PODER E RESISTÊNCIA NA INVENÇÃO MIDIÁTICA DA HOMOSSEXUALIDADE NO BRASIL
DOI:
https://doi.org/10.18764/2525-3441v8n22.2023.12Palavras-chave:
Dispositivo de Sexualidade, Homossexualidade, Mídia, Imprensa, AidsResumo
Este trabalho empreende uma genealogia da homossexualidade no Brasil tendo em vista a implantação da scientia sexualis e a consolidação midiática da figura homossexual desde a epidemia de Aids. Até o início do século XX, as práticas sexuais entre iguais estavam organizadas a partir dos papéis de gênero. Desde então, houve um crescente interesse das mídias, da ciência, da medicina e do Estado sobre o corpo e as práticas dos homens que tinham práticas sexuais com outros homens. Interroga-se: quais jogos de poder e resistência deram condições de emergência aos modos de ser homossexual presentes em nossa atualidade? O objetivo é descrever como os processos de subjetivação dos homens atraídos por parceiros do mesmo sexo encontram-se constituídos pelo dispositivo de sexualidade, especialmente em sua dimensão comunicacional. Para tal tarefa, vale-se da genealogia foucaultiana para descrever uma história das possibilidades de se tornar um sujeito homossexual diante de relações de poder-saber materializadas em uma rede de enunciados e de práticas utilizada para interpretar, gerir, disciplinar e normatizar o sexo entre homens. Conclui-se que a scientia sexualis foi responsável por incitar determinadas formas de ser, estar no mundo e nele intervir. E ainda, que ela inventou a noção de homossexualidade masculina, enquanto um modo de subjetivação amplamente conhecido e reproduzido desde a epidemia da Aids, tendo a participação inegável da imprensa. Desde o acontecimento Aids, o modo como alguns indivíduos são vistos, se reconhecem e passam a existir no mundo se modifica enquanto resultado de poderes e resistências.
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