Língua, cultura e identidade: fronteiras entre línguas nos dizeres de um imigrante
DOI:
https://doi.org/10.18764/2525-3441v10n27.2025.05Palavras-chave:
Heterogeneidade enunciativa, Imigração japonesa, Identidade nipo-brasileiraResumo
Este trabalho analisa como a língua japonesa emerge em interações verbais orais em português brasileiro de um sujeito imigrante japonês, tomando como corpus o documentário As Lentes de Kenji (2008), que homenageia o fotógrafo Kenji Ueta, imigrante japonês radicado em Maringá. Com base na teoria das heterogeneidades enunciativas, de Authier-Revuz (1990; 1998; 2004; 2007), investigamos como o sujeito mobiliza a língua japonesa (e, consequentemente, a cultura japonesa) em sua enunciação, buscando compreender como o sujeito transita entre fronteiras linguísticas e culturais na sua construção enquanto sujeito imigrante e na sua circulação por identidades – no sentido de Hall (2006). Para tanto, foram selecionados e transcritos, de acordo com as normas do NURC descritas por Castilho (2014), momentos em que o sujeito é flagrado transitando entre línguas. Foi realizada uma análise qualitativa desses momentos, a fim de descrever os usos do japonês no dizer do sujeito e compreender os pontos de heterogeneidade mostrada que emergem em sua fala. Os resultados indicam que essas emergências se configuram como marcas discursivas que mostram um sujeito cindido entre línguas e culturas e pela dupla nacionalidade nipo-brasileira. Assim, ao recorrer ao japonês para expressar suas experiências e práticas, o sujeito reafirma suas identidades nipo-brasileira, articulando-se discursivamente entre duas tradições linguísticas e culturais.
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