O tempo que atravessa a memória e o espaço que inscreve a resistência
uma análise do filme “Ainda Estou Aqui” (2024)
DOI:
https://doi.org/10.18764/2525-3441v10n27.2025.06Palavras-chave:
cronotopo, cinema, opressão, resistênciaResumo
Este artigo propõe uma análise do filme “Ainda Estou Aqui” (2024) à luz do conceito de cronotopo, formulado por Mikhail Bakhtin a partir de sua leitura de Dostoiévski. A pesquisa explora como o tempo e o espaço cinematográficos estruturam a narrativa, materializando experiências sociais marcadas por múltiplas camadas de opressão e resistência. Partimos da premissa de que o cinema não é um simples espelho da realidade, mas um espaço de inscrição simbólica e política, no qual corpos, vozes e silêncios se organizam em uma cartografia afetiva e histórica. Para tanto, adotamos uma metodologia qualitativa e interpretativa, conforme Minayo (2001) e Silveira e Córdova (2009), com o objetivo de descrever as relações sociais e as camadas de opressão presentes no filme. A partir da análise de três cenas específicas, investigamos como os cronotopos da cidade grande, do encontro inesperado e do confinamento operam na construção de pertencimento, revelando a interação entre territórios físicos e subjetivos, bem como entre o tempo da memória e o tempo de espera. Os resultados indicam que a justaposição de espaços e temporalidades no filme não só compõe sua estética narrativa, mas também denuncia as dinâmicas de exclusão e resistência que estruturam a realidade dos sujeitos representados. Dessa forma, reafirma-se o cinema como um campo de disputa simbólica, no qual o tempo e o espaço tornam-se elementos centrais na construção de existências e identidades.
Downloads
Referências
AMORIM, Marília. Cronotopo e exotopia. In: BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: outros conceitos-chave. 2. Ed., 2ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2023, p. 95-114.
AUMONT, Jacques; BERGALA, Alain; MARIE, Michel; VERNET, Marc. A estética do filme. Tradução de Marina Appenzeller. 7ª ed. Campinas: Papirus, 2009.
AINDA estou aqui. Direção: Walter Salles. Produção: O2 Filmes; Globo Filmes. Brasil: Sony Pictures, 2024. 1 vídeo (135 min.), son., color.
BAKHTIN, Mikhail. Questões de Literatura e de Estética. Tradução de Aurora Fornoni Bernardini, José Pereira Júnior, Augusto Góes Júnior, Helena Spryndis Nazário Homero Freitas de Andrade. São Paulo: UNESP, 1988.
BAKHTIN, Mikhail. O autor e o herói. In: Estética da criação verbal. 2.ed. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1997, p. 23-220.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo, Ed. Martins Fontes, 2003.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. Tradução Michelaud e Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 2006.
BAKHTIN, Mikhail. Problemas da Poética de Dostoievski. Tradução Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
BAKHTIN, Mikhail. As formas do tempo e do cronotopo no romance. In: Teoria do romance II: as formas do tempo e do cronotopo. São Paulo: Editora 34, 2018, p.11-236.
DI CAMARGO, Ivo Júnior. Mikhail Bakhtin na linguagem cinematográfica. São Paulo: Mentes Abertas, 2020.
FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 2006.
LEAL, José Luciano Marculino. Discurso na vida e na arte: Leituras dialógicas do discurso religioso cristão no filme ressurreição. 2023. 257 f. Tese (Doutorado em Linguística pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística) – Centro de Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal da Paraíba, 2023.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2001.
PAIVA, Marcelo Rubens. Ainda estou aqui. 1. ed. Rio de Janeiro: Alfaguara, Companhia das Letras, 2015.
REZENDE, Bibiana Anjos. Entre luto e ativismo: um (des) encontro de cronotopos no filme Orações para Bobby (2009). Revista Diálogos, v. 11, n. 3, p. 115 –133, 2024. Disponível em: https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/revdia/article/view/16007. Acesso em: 28 mar. 2025.
SILVEIRA, Denise Tolfo; CÓRDOVA, Fernanda Peixoto. A pesquisa científica. In: Métodos de pesquisa. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009. p. 31- 42.
SOBRAL, Adail. Filosofias (e filosofia) em Bakhtin. In: BRAIT, Beth. (org.). Bakhtin: Conceitos-Chave. 5. Ed., 7ª reimpressão, São Paulo: Contexto, 2021, p. 123 – 150.
STAM, Robert. Bakhtin: Da teoria literária à cultura de massa. Tradução de Heloísa Jahn. Editora Ática: São Paulo, 1992.
TURNER, Graeme. Cinema como prática social. Tradução Mauro Silva. São Paulo: Summus, 1997.
VOLÓCHINOV, Valentin. Marxismo e Filosofia da Linguagem: Problemas Fundamentais do Método Sociológico na Ciência da Linguagem. Tradução de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. 1ª ed. São Paulo: Editora 34, 2017.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Afluente: Revista de Letras e Linguística

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Direitos autorais Afluente: Revista Eletrônica de Letras e Linguística
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.