COROAI-ME DE ROSAS, E BASTA
UMA LEITURA SOBRE O FILME O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS, DE JOÃO BOTELHO
DOI:
https://doi.org/10.18764/2525-3441v9n26.2024.09Palavras-chave:
Ricardo Reis, Percurso Ficcional, Personagem, adaptaçãoResumo
A partir da observação da categoria personagem, centrada na figura de Ricardo Reis, heterônimo de Fernando Pessoa, transmutado em personagem central do romance O ano da morte de Ricardo Reis (1984), de José Saramago, e, posteriormente, adaptado para a linguagem fílmica por meio de obra homônima de João Botelho, o presente artigo objetiva discutir a sua expressão cinematográfica. Para isso, apoia-se analiticamente em conceitos como personagem (Candido, 2011; Brait, 1985) hipertextualidade (Genette, 2010), adaptação (Stam, 2016; Hutcheon, 2013), além das ideias de Bazin (1991), Azerêdo (2012, 2013, 2019), Reis (2017, 2018), dentre outros. Na obra fílmica, observa-se um Ricardo Reis que se depara com questões que se imbricam com seus valores e exigem posicionamentos assertivos. Com base nessa perspectiva, percebe-se que a adaptação aponta para semelhanças com questões político-sociais contemporâneas ao tempo da realização, como a espetacularização da fé e a ênfase na ascensão de governos com tendências totalitárias e antidemocráticas, o que fomenta uma análise politizada dessas conjunturas, a partir das peculiaridades semióticas do cinema. Como suporte metodológico, utilizou-se o levantamento bibliográfico e de fortuna crítica acerca dos autores primevos – Pessoa e Saramago –, bem como a espectação de outras obras do realizador, a fim de imbricar a perspectiva teórica sobre a personagem com elementos histórico-críticos trazidos pelo cineasta. Observamos, a título de resultados e conclusões, a ênfase nas ambivalências de Ricardo Reis como estratégia do realizador para a construção de um olhar arguidor acerca da narrativa, bem como das relações entre ficção e sociedade presentes na obra.
Palavras-chave: Ricardo Reis; percurso ficcional; personagem; adaptação.
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