A busca pelo significado social da variação: os desafios da pesquisa etnográfica

Abstract

Este artigo, fruto da tese de doutoramento intitulada “O Uso do Pronome Feminino enquanto Marca Identitária de um Grupo Gay: linguagem, gênero e avaliação linguística”, busca evidenciar os desafios encontrados ao empreendermos uma pesquisa sociolinguística de cunho etnográfico (Severino, 2007; Mainardes, 2009), bem como demonstrar que suplantar tais barreiras é possível. Apoiados na perspectiva sociolinguística de terceira onda (Eckert, 2005), optamos por trilhar caminhos que nos levassem ao trabalho com o significado social da variação, experimentando procedimentos que conseguissem olhar além das macrocategorias sociais e chegassem à utilização da variação na construção estilística dos sujeitos da interação. Para isso, iniciamos nossa pesquisa sem um objeto de estudo definido a priori, pois esse seria escolhido após um período de observação participante dentro de uma comunidade de práticas. A falta desse elemento que direcionasse nosso olhar durante a pesquisa foi um dos desafios a serem superados. O longo período de observação também foi um obstáculo, mas, ao ser ultrapassado, nos auxiliou para que pudéssemos, se não romper, ao menos diminuir o chamado “paradoxo do observador” (Labov, 2008[1972]). Suplantando tais barreiras, buscamos identificar o significado social de uma variável usada por um grupo de homens cisgênero gays, em uma comunidade de práticas.