ENTRE PRESERVAR E TRANSFORMAR

Práticas culturais de crianças quilombolas no Sertão nordestino

Autores

Lisa Victória Lopes Gonzaga de Souza Universidade Federal de Alagoas - Campus do Sertão https://orcid.org/0000-0001-6642-3813
Suzana Santos Libardi Universidade Federal de Alagoas - Campus do Sertão https://orcid.org/0000-0002-2185-6786

DOI:

https://doi.org/10.18764/2595-1033v6n14.2023.7

Palavras-chave:

Práticas culturais, Crianças, Quilombola, Geração, Sertão

Resumo

Este trabalho trata de práticas culturais das gerações mais novas de uma comunidade quilombola do Sertão nordestino, localizada no município de Água Branca-AL, Brasil. Foram realizadas 11 oficinas com 37 crianças quilombolas e 2 idosos/as. A partir do protagonismo das crianças, foram executadas caminhadas pelo território, rodas de conversas, diálogos intergeracionais, brincadeiras e confecção de brinquedos ensinados por essas gerações. Com as atividades realizadas, os/as participantes mais jovens explicitaram sua identidade quilombola ligada essencialmente ao que fazem no território; envolvendo práticas culturais específicas da sua posição geracional enquanto crianças. Identificamos como exemplos dessas práticas: cantigas populares; brincar de ximbra; confeccionar bonecas e petecas de milho, carrinhos de bananeira e/ou de lata; se envolver (ou não) no artesanato local; cantar e dançar funk. Com base nestas experiências e nos estudos de culturas infantis, compreendemos que, ao mesmo tempo em que as crianças preservam parte da tradição popular, passada de geração em geração, elas também são catalisadoras de algumas transformações culturais locais. Como conclusão, é relevante a desconstrução da imagem generalizada dos quilombos apenas como locus de transmissão e reprodução das tradições, bem como das crianças marcadamente como receptoras da cultura dos/as mais velhos/as.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Lisa Victória Lopes Gonzaga de Souza, Universidade Federal de Alagoas - Campus do Sertão

Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) - Campus do Sertão.

Suzana Santos Libardi, Universidade Federal de Alagoas - Campus do Sertão

Professora adjunta da área de Psicologia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) campus do Sertão, onde está ligada ao curso de Pedagogia e desenvolve ações de pesquisa-extensão com/sobre crianças de povos e comunidades tradicionais. É pesquisadora vinculada ao Núcleo de Estudos, Pesquisas e Extensão sobre Diversidade e Educação do Sertão Alagoano (NUDES-UFAL), onde coordena o Grupo de Leitura em Estudos da Infância (GLEI). Integra também o Núcleo de Pesquisa sobre Infâncias, Juventudes e Políticas Públicas (NIJUP-UFF). É vice-presidente pela regional Nordeste da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO) - biênio 2022-23. Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), mestrado e doutorado em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Realizou Doutorado Sanduíche no Exterior no Norwegian Centre for Child Research (NOSEB), Trondheim-Noruega. Tem experiência na área de Psicologia Social e Estudos da infância, atuando principalmente nos seguintes temas: relações intergeracionais, proteção da infância, infâncias de povos e comunidades tradicionais.

Referências

ABRAMOWICZ, Anete; OLIVEIRA, Fabiana de. As relações étnicos-raciais e a sociologia da infância no Brasil: alguns aportes. In: BENTO, Maria Aparecida (Org.). Educação infantil, igualdade racial e diversidade: aspectos jurídicos, políticos e conceituais. 1 ed. São Paulo: Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades - CEERT, 2012. p. 47-61.

ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Quilombolas e novas etnias. Manaus: UEA Edições, 2011.

ALMEIDA, Maria Salete Bortholazzi; OLIVEIRA, Silmara Sartoreto de. Educação não formal, informal e formal do conhecimento científico nos diferentes espaços de ensino e aprendizagem. In: PARANÁ. Secretária de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Os desafios da Escola Pública Paranaense na Perspectiva do Professor PDE: Produção Didático-pedagógica, 2014. Curitiba: SEED/PR., 2016., v. 2. (Cadernos PDE). Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2014/2014_uel_bio_pdp_maria_salete_bortholazzi_almeida.pdf. Acesso em: 20 de set. de 2022.

AMORAS, Maria; MOTTA-MAUÉS, Maria Angélica. Ser um trabalhador/tornar-se abacatense: criança, socialização e aprendizagem em uma comunidade quilombola da Amazônia-PA. Rev. Latitude, v.10, n.2, pp.251-285, 2016. Disponível em: <https://www.seer.ufal.br/index.php/latitude/article/view/2508/pdf_1> . Acesso em 20 set. 2022.

ANDRADE, Girlaine Pessoa; BRANDÃO, Isabel Cristina de Jesus. As brincadeiras no cotidiano das crianças da comunidade quilombola do Ginete. In: ANAIS DO CONGRESSO DE ESTUDOS DA INFÂNCIA., 1., 2021, Rio de Janeiro. Anais eletrônicos… Rio de Janeiro: Congresso Estudos da Infância, 2021. Disponível em: . Acesso em 06 nov. 2022.

BARBOSA, Maria Carmen Silveira. Culturas Infantis: contribuições e reflexões. Revista Diálogo Educacional, [s.I.], v. 14, n. 43, p. 645-667, jul. 2014. Disponível em: <https://periodicos.pucpr.br/index.php/dialogoeducacional/article/view/1870/1774>. Acesso em: 07 set. 2021.

BRASIL. Decreto n° 4887 de 20 de novembro de 2003. Regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Disponível em: <https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10980003/artigo-2-do-decreto-n-4887-de-20-de-novembro-de-2003#:~:text=Regulamenta%20o%20procedimento%20para%20identifica%C3%A7%C3%A3o,Ato%20das%20Disposi%C3%A7%C3%B5es%20Constitucionais%20Transit%C3%B3rias.>. Acesso em: 19 de abr. de 2021.

BRINCADEIRAS PELO BRASIL. Território do brincar: um encontro com a criança brasileira, 2014. Disponível em: <https://territoriodobrincar.com.br/brincadeiras-pelo-brasil/>. Acesso em: 14 set. 2022.

CASCAIS, Maria das Graças Alves; TERÁN, Augusto Fachín. Educação formal, informal e não formal em ciências: contribuições dos diversos espaços educativos. Ciência em tela. Manaus, v. 7, n. 2, p. 1-10, 2014. Disponível em: <http://www.cienciaemtela.nutes.ufrj.br/artigos/0702enf.pdf>. Acesso em: 04 set. 2022.

CONDE, Soraya Franzoni. O que as crianças do campo fazem fora da escola? Reflexões sobre cultura e infância em territórios rurais de Santa Catarina. Crítica Educativa, Sorocaba-SP, v. 2, n. 2, p. 51-61, jul./dez. 2016.

CORSARO, William Arnold. Sociologia da Infância. Trad. Lia Gabriele Regius Reis; Rev. Maria Letícia B. P. Nascimento. Porto Alegre: Artmed, 2011, 2ª ed.

DELGADO, Ana Cristina Coll; MÜLLER, Fernanda. Abordagens Etnográficas nas Pesquisas com as Crianças e suas Culturas. In: 28ª REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 2005. Anais… 28ª Reunião anual da ANPED, Caxambu, v. 28, p. 1-17. Disponível em: <https://www.anped.org.br/sites/default/files/gt0781int.pdf>. Acesso em: 07 set. 2021.

FILHO, Altino José Martins; BARBOSA, Maria Carmem Silveira. Metodologias de pesquisas com crianças. Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul, v. 18, n. 2, p. 08-28, jul. 2010. Disponível em: <https://online.unisc.br/seer/index.php/reflex/article/view/1496/1935>. Acesso em: 13 ago. 2022.

GOHN, Maria da Glória. Educação não-formal, participação da sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas. Ensaio. Avaliação e Políticas Públicas em Educação, Rio de Janeiro, v. 14, n.50, p. 27-38, 2006. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/ensaio/a/s5xg9Zy7sWHxV5H54GYydfQ/?format=pdf>. Acesso em 05 set. 2022.

LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? - São Paulo: Cortez, 2010.

LIMA, Izabela Souza Teixeira. Artesanato da Comunidade Quilombola Serra das Viúvas Água Branca – Al (2010-2018): cultura e/ou sustentabilidade? / Izabela Souza Teixeira Lima. – 2018. 63 f. : il.

MARQUES, Marta Inez Medeiros. O conceito de espaço rural em questão. Terra Livre, [s. l.], v. 2, n. 19, p. 95-112, 2015. Disponível em: <https://publicacoes.agb.org.br/index.php/terralivre/article/view/160/148>. Acesso em: 15 nov. 2022.

MEIRELLES, Renata. Giramundo e outros brinquedos e brincadeiras dos meninos do Brasil / Renata Meirelles. – São Paulo : Editora Terceiro Nome, 2007.

MUNARIM, Iracema; GIRARDELLO, Gilka Elvira Ponzi. Crianças, mídias e cultura de movimento: (des)caminhos para pensar o corpo na infância. In: Miguel G. Arroyo; Maurício R. da Silva (Orgs.). Corpo-infância: exercícios tensos de ser criança; por outras pedagogias dos corpos. 1. ed. - Petrópolis/RJ: Vozes, 2012, p. 331-347.

NASCIMENTO, Shirley Silva do. Saberes, brinquedos e brincadeiras: vivências lúdicas de crianças da comunidade quilombola Campo Verde/PA - Dissertação (mestrado em Educação) Universidade do Estado do Pará, Belém. Belém, 2014. 171f.

PEREIRA, Vilmar Alves; EINCHENBEGER, Jacqueline Carrilho; VARGAS, Vanessa Alves. Leituras da infância: da mímesis à indústria cultural. Poiésis, v. 9, p. 207-221, 2015. Disponível em: https://portaldeperiodicos.animaeducacao.com.br/index.php/Poiesis/article/view/2724/2123 Acesso em: 15 de out. 2022.

PERFIL DA COMUNIDADE. Rede comunidades semiárido, 2019. Disponível em: <https://comunidadescoep.org.br/perfil/comunidade-quilombola-serra-das-viuvas/>. Acesso em 31 set. 2022.

ROMERO, Fanny Longa. Fazer artesanato para fazer a roça: práticas sociotécnicas na Comunidade Quilombola da Serra das Viúvas. Revista Ciências Sociais Unisinos, v. 50, p. 281-292, set./dez. 2014. Disponível em: <https://revistas.unisinos.br/index.php/ciencias_sociais/article/view/csu.2014.50.3.10/4478>. Acesso em 14 de set. de 2022.

ROSEMBERG, Fúlvia Maria de Barros Mott. A criança pequena e o direito à creche no contexto dos debates sobre infância e relações raciais. In: Maria Aparecida Bento. (Org.). Educação infantil, igualdade racial e diversidade: aspectos jurídicos, políticos e conceituais. 1. ed. São Paulo: Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades - CEERT, 2012, p. 11-41.

SILVA, Isabel Cristina Oliveira da. Juventude e expressividade musicais no espaço escolar do Alto Sertão de Alagoas - Dissertação (mestrado em Educação) Universidade Federal de Sergipe. - São Cristóvão, 2018.

SOUZA, Márcia Lúcia Anacleto. “Ser quilombola”: identidade, território e educação na cultura infantil. Tese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação. Campinas, SP. 2015. [s.n.].

SOUZA, Maria Helena Menezes de. A concordância verbal com o pronome Nós na comunidade quilombola Serra das Viúvas / Água Branca - AL. Uniletras, Ponta Grossa, v. 43, p. 1-13, 2021. Disponível em: <https://revistas.uepg.br/index.php/uniletras/article/view/17810/209209215456>. Acesso em 30 de set. de 2022.

SOUZA, Maria Helena Menezes de. A variação nós e a gente na posição de sujeito da comunidade quilombola Serra das Viúvas / Água Branca - AL. Dissertação (mestrado em Linguística e Literatura) - Universidade Federal de Alagoas. Faculdade de Letras. Programa de pósgraduação em Linguística e Literatura, Maceió. 2020. 91f. il.

VALENTIM, Renata Patricia Forain de; TRINDADE, Zeidi Araújo. Modernidade e comunidades tradicionais: memória, identidade e transmissão em território quilombola. Psicologia Política, v.11, n.22, pp.295-308, 2011. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rpp/v11n22/v11n22a08.pdf>. Acesso em 20 set. 2022.

VELOSO, Alessandra Pereira de Carvalho; CARVALHO, Nazaré Cristina. O entrelaçar das memórias de velhos quilombolas: brincadeiras e saberes. Humanidades & Inovação, v.7, p. 67-79, 2020. Disponível em: <https://revista.unitins.br/index.php/humanidadeseinovacao/article/view/4601/2191>. Acesso em 07 nov. 2022.

Downloads

Publicado

2023-09-27

Como Citar

Souza, L. V. L. G. de, & Libardi, S. S. . (2023). ENTRE PRESERVAR E TRANSFORMAR: Práticas culturais de crianças quilombolas no Sertão nordestino. Kwanissa: Revista De Estudos Africanos E Afro-Brasileiros, 6(14), 121–144. https://doi.org/10.18764/2595-1033v6n14.2023.7