Os usos do conceito de branquitude para uma educação antirracista no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.18764/2358-4319v17n1.2024.8Palavras-chave:
branquitude, educação antirracista, decolonialidadeResumo
O presente artigo tem como intuito defender a relevância do entendimento sobre branquitude como categoria analítica para a efetivação de uma educação antirracista no Brasil. A partir do referencial teórico de(s)colonial, buscamos demonstrar a importância de deslocar as problematizações raciais das vítimas do racismo para as pessoas que usufruem dos privilégios oriundos das hierarquias raciais assim como expor a pretensa superioridade, a qual a universalização colonial pressupõe em seu projeto de racialização dos corpos. Autores e autoras de destaque no campo dos estudos críticos da branquitude, como Cida Bento, Lia Schucman e Lourenço Cardoso, são discutidos. Por fim, analisamos que são bem-vindas abordagens pedagógicas que se proponham a inserir esse debate, principalmente se houver uma perspectiva estrutural que não essencialize as identidades. De tal modo, é possível confrontar as desigualdades entranhadas na sociedade brasileira, rejeitando discursos rasos sobre “diversidade” e, sobretudo, negando a branquitude como norma.
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