A confiança como “técnica disciplinar” e o controle sobre a autorrealização de mulheres no contexto do trabalho
DOI:
https://doi.org/10.18764/2176-5111v17n30.2022.11Palavras-chave:
Confiança, Técnicas de si, Mulheres nas organizações, Controle disciplinarResumo
Este artigo parte da abordagem da confidence culture e de seus impactos sobre as mulheres que trabalham em organizações através da sugestão de práticas individuais que prometem a ampliação da autoconfiança e da autoestima. Em diálogo com várias autoras foucaultianas, refletimos acerca de como essas práticas operam como “técnicas de si” às avessas, instigando mulheres a agirem sobre si mesmas, a reconfigurarem suas posturas corporais e discursivas, em sintonia com forças disciplinares do capitalismo. Realizamos uma sistematização crítica de literatura, em diálogo com o livro Clube da Luta feminista: um manual de sobrevivência (para um ambiente de trabalho machista), da jornalista Jessica Bennett, buscando evidenciar a autorregulação das mulheres no trabalho através da construção de uma subjetividade confiante, desconsiderando interseccionalidades e forças sociais, políticas e econômicas que mantêm enraizadas opressões e injustiças. Interessa-nos mostrar como a cultura da confiança favorece a governamentalidade biopolítica negando a vulnerabilidade e a importância da constituição de interações recíprocas e comunidades políticas sensíveis dentro das organizações.
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