ACTIVISMO SOCIAL NO CONTEXTO COMUNITÁRIO EM ÁFRICA: o neocomunitarianismo como possibilidade
Abstract
Entendendo o activismo (social) como “um conjunto de comportamentos observáveis, levados a cabo de forma livre e independente, que têm como objectivo a mudança de um panorama social negativo através da acção estratégica e teoricamente enquadrada em diferentes quadrantes de uma determinada sociedade” (Pereira, 2006), o presente artigo procura discutir as condições e as possibilidades de o activismo social ser um engajamento, não de uma parte, mas sim de toda uma sociedade tomando África como exemplo. Possibilidade que designamos aqui como Neocomunitarianismo. O Neocomunitarianismo, como activismo social no contexto comunitário, se fundamenta em comunidades não de origem (a exemplo de grupos etno-linguísticos), mas sim de existência e se consolida por dupla responsabilidade: a responsabilidade individual (o “existir-para-o-outro”) e a responsabilidade colectiva (o papel dos governantes no Estado). Com o “existir-para-o-outro”, como responsabilidade individual, provavelmente reporíamos, nas relações humanas, o amor pelo outro enquanto significa cuidar de alguém fazendo alguma coisa que possa tornar a sorte dele melhor. “Existindo-para-o-outro”, se calhar, resolveríamos, em África e no mundo, o problema de termos uns seres humanos morrendo ou vivendo vidas frias e deploráveis enquanto outros vivem liberdades demasiadamente realizadas. Mas não bastaria a responsabilidade individual do “existir-para-o-outro”, sem um trabalho constante ao nível dos governantes e instituições do Estado de fazer ver aos cidadãos a importância de um viver-juntos, orientado para a construção de um amanhã comum melhor. Os valores de cariz ubuntuista tornam-se incontornáveis nessa dupla responsabilidade enquanto próprios do contexto africano.
Palavras-chave: Activismo social. Neocomunitarianismo. África.
Understanding (social) activism as “a set of observable behaviors, carried out freely and independently, which aim to change a negative social landscape through strategic action and theoretically framed in different quadrants of a given society” (Pereira, 2006), this article seeks to discuss the conditions and possibilities for social activism to be an engagement, not from one part, but from an entire society taking Africa as an example. Possibility that we designate here as Neocomunitarianism. Neocomunitarianism, as social activism in the community context, is based on communities not of origin (such as ethno-linguistic groups), but of existence and is consolidated by double responsibility: individual responsibility (“existing-for-the- other ”) and collective responsibility (the role of government in the State). With “existing-for-the-other”, as an individual responsibility, we would probably replace, in human relationships, the love for the other while it means taking care of someone doing something that can make his luck better. “Existing-for-the-other”, perhaps, we would solve, in Africa and in the world, the problem of having some human beings dying or living cold and deplorable lives while others live freedoms that are too fulfilled. But individual responsibility of “existing-for-the-other” would not be enough, without constant work at the level of government and State institutions to make citizens see the importance of living together, oriented towards the construction of a best common tomorrow. It is having always in their mind that the freedoms of individuals and groups are the only task for which they have the power to direct others; and that the quality of politics is assessed by the quality of social freedom that the holders of political powers will be able to offer communion, peace, union and reconciliation in communities at all levels. The values of an ubuntu nature are indispensable in this double responsibility as they belong to the African context.
Keywords: Social activism. Neocommunitarianism. Africa.
Entendiendo el activismo (social) como “un conjunto de comportamientos observables, llevados a cabo de forma libre e independiente, cuyo objetivo es cambiar un panorama social negativo a través de la acción estratégica y enmarcado teóricamente en diferentes cuadrantes de una sociedad determinada” (Pereira, 2006), este artículo busca discutir las condiciones y posibilidades para que el activismo social sea un compromiso, no de una parte, sino de toda una sociedad tomando a África como ejemplo. Posibilidad que designamos aquí como Neocomunitarianismo. El neocomunitarismo, como activismo social en el contexto comunitario, se basa en comunidades no de origen (como los grupos etnolingüísticos), sino en la existencia y se consolida por la doble responsabilidad: responsabilidad individual (“existente-para-el- otro”) y responsabilidad colectiva (el papel del gobierno en el Estado). Con “existir para el otro”, como una responsabilidad individual, probablemente reemplazaríamos, en las relaciones humanas, el amor por el otro, mientras que significa cuidar a alguien que haga algo que pueda mejorar su suerte. “Existiendo para el otro”, talvez, resolveríamos, en África y en el mundo, el problema de que los seres humanos mueran o vivan vidas frías y deplorables, mientras que otros viven libertades excesivamente realizadas. Pero la responsabilidad individual de “existir para el otro” no sería suficiente, sin un trabajo constante a nivel de las instituciones gubernamentales y estatales para hacer que los ciudadanos vean la importancia de vivir juntos, orientados hacia la construcción de un mañana común mejor. Siempre está en su mente que las libertades de los individuos y grupos son la única tarea para la cual tienen el poder de dirigir a otros; y que la calidad de la política se evalúa por la calidad de la libertad social que los titulares de los poderes políticos podrán ofrecer, comunión, paz, unión y reconciliación en las comunidades a todos los niveles. Los valores de una naturaleza ubuntu son indispensables en esta doble responsabilidad, ya que pertenecen al contexto africano.
Palabras-clave: Activismo social, Neocomunitarianismo, África.
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