Quilombo carcerário: afeto e resistência de familiares de mulheres negras encarceradas

Autori

  • Ana Luiza de Freitas Biazeto Universidade do Texas em Austin

DOI:

https://doi.org/10.18764/2675-0805v7e25744

Parole chiave:

Quilombo carcerário, Família negra, Mulher negra presa, Resistência negra, Afeto

Abstract

Este artigo analisa as estratégias de resistência e as conexões afetivas de familiares de mulheres presas na maior penitenciária feminina da América Latina, a Penitenciária Feminina de Sant’Ana (PFS), em São Paulo. Com base em narrativas e observações realizadas em julho de 2023, destaca-se o cotidiano de famílias negras que, através das visitas semanais, enfrentam o abandono imposto pelo Estado e resistem às práticas de controle e desumanização. Neste trabalho, proponho o termo “quilombo carcerário” como uma ideia inicial para compreender a forma atual de organização social e resistência negra, liderada por essas famílias. Retomo aqui a noção de quilombo como elaborada por Beatriz Nascimento, não apenas refúgios geográficos, mas espaços de sociabilidade negra que ressignificavam a luta pela vida, pela liberdade e pela autonomia. A partir de reflexões desta autora, de Sueli Carneiro e bell hooks, o texto aborda como essas práticas de cuidado e afeto, especialmente conduzidas por mães, tornam-se formas de luta contra a aniquilação de sociabilidades negras. Também discute como esses familiares, ao levar alimentos e preparar refeições para as mulheres presas durante os dias de visita, alimentam não apenas seus corpos, mas também os sonhos de liberdade e de futuridades negras e desafiam a lógica genocida do sistema prisional brasileiro. Por fim, argumenta-se que essas visitas constituem estratégias políticas de subversão e resistência que reafirmam a dignidade e a continuidade da vida negra.

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Pubblicato

2025-11-10

Come citare

BIAZETO, Ana Luiza de Freitas.
Quilombo carcerário: afeto e resistência de familiares de mulheres negras encarceradas
. Revista Humanidades & Educação, p. e–0725744, 10 nov. 2025 Disponível em: https://cajapio.ufma.br/index.php/humanidadeseeducacao/article/view/25744. Acesso em: 26 dic. 2025.

Fascicolo

Sezione

Dossiê