AS SEGUNDAS NÚPCIAS DE FORROS
Justificações de Viuvez e a atuação de vigários-gerais numa sociedade escravista (Maranhão, 1781 e 1795)
DOI:
https://doi.org/10.18764/2595-1033v6n14.2023.13Palavras-chave:
Viuvez, casamento, escravidão, Maranhão, vigários-geraisResumo
Pedro da Silva, crioulo forro, natural de Cabo Verde e João Damasceno, preto forro, natural do Rio Grande do Norte, foram dois homens marcados pelo estigma da escravidão. Suas trajetórias demonstraram ter em comum o desejo de se casarem novamente depois de ficarem viúvos. Os seus Autos de Justificação de Viuvez, documentos da Câmara Episcopal do Bispado do Maranhão, permitem lançar uma lente de aumento sobre questões muito importantes na sociedade colonial, tais como o matrimônio, a escravidão e a atuação dos vigários-gerais e provisores na tentativa de controle moral das populações mesmo em tempo de ausência dos bispos. Na normativa do Juízo Eclesiástico os trâmites exigidos para o casamento não eram diferentes para livres, escravizados ou libertos. Conforme a legislação todos os leigos deveriam passar pelos estágios exigidos pela Igreja para alcançarem o status de casados. Em ambos os casos, foi preciso a inquirição de testemunhas e a coleta de informações em mais de um espaço. Trataram-se de histórias que conectam Cabo Verde, Lisboa e o Maranhão, no caso de Pedro da Silva, e a Capitania do Piauí e o Maranhão, no caso de João Damasceno. O objetivo desta investigação é analisar como os processos de comprovação do estado de viúvo de dois homens forros permitem discutir a importância do sacramento do matrimônio numa sociedade escravista.
Palavras-chave: Viuvez, Casamento, Escravidão, Maranhão, vigários-gerais.
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