VOZES NEGRAS NO ENSINO DE HISTÓRIA:
O papel da literatura de Maria Firmina do Reis e Conceição Evaristo
DOI:
https://doi.org/10.18764/2595-1033v6n15.2023.21Palavras-chave:
Dororidade, Maria Firmina dos Reis, Conceição EvaristoResumo
O presente artigo visa discutir a interlocução entre o ensino de História e a utilização da literatura como instrumento pedagógico facilitador do processo de ensino-aprendizagem. Para isso, foi utilizado o romance Úrsula, de Maria de Firmina dos Reis, o livro Ponciá Vicêncio e o poema Vozes Mulheres, ambos de Conceição Evaristo. A obra da maranhense Firmina dos Reis, publicada em 1860, permite (re)pensar o papel dos sujeitos escravizados e a dinâmica escravista durante o Brasil Império. Já os escritos de Evaristo fornecem uma rica discussão em torno do lugar da população negra neste século e, em boa medida, permite perceber as nuances e permanências da lógica da escravidão ainda presentes na atualidade. A introdução desses textos em sala de aula visa romper com um silenciamento intelectual, cultural, científico e educacional imposto à produção e disseminação das obras de autores negros, em especial, as mulheres. O ponto em comum estabelecido para unir duas autoras pertencentes a contextos históricos diferentes foi o conceito de dororidade, elemento que perpassará por todo o artigo como ferramenta de confluência e de diálogo com a população negra, seja durante o período imperial, seja na atualidade.
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