A reprodução contemporânea: o papel e os limites da educação superior
DOI:
https://doi.org/10.18764/2358-4319v18e23091Palavras-chave:
ensino superior, mobilidade social, reproduçãoResumo
A sociedade tem passado por mudanças importantes, especialmente devido às tecnologias digitais. Nessa senda, causam espécie os recentes índices de queda na procura pelo ensino superior atrelados ao aumento exponencial na busca por cursos a distância. No caso das universidades públicas, o cenário é alarmante, com salas de diversos cursos cada vez mais vazias. A fim de refletir sobre esse fenômeno, este texto se trata de um ensaio, retomando contribuições teóricas, sobretudo da teoria bourdieusiana, no tocante ao papel da escola enquanto reprodutora da ordem social. Tem-se como objetivo geral discutir o papel e os limites da educação superior na contemporaneidade. Em termos procedimentais, foram resgatadas, por meio de revisão narrativa, contribuições de diferentes autores, em especial de Pierre Bourdieu. Assim, discute-se as tendências de desburocratização e flexibilização atinentes ao capitalismo contemporâneo. Propõe-se uma análise da assim chamada ideologia do empreendedorismo com vistas a demonstrá-la como uma espécie de sucedânea do vislumbre de mobilidade social outrora prometido pela educação superior. Conclui-se que é mister (re)pensar sobre as características histórico-sociais hodiernas, relacionando-as aos papeis e aos limites da educação institucionalizada. Longe de questionar a importância da universidade, propõe-se uma reflexão quanto ao seu alinhamento em face de uma sociedade cada vez mais flexível, volátil e carente de pensamento crítico.
Downloads
Metrics
Referências
ABREU, C. A lógica da distinção em Pierre Bourdieu, vista através de uma obra excepcional. Mulemba [Online], v. 5, n. 10, 2015. Disponível em: http://journals.openedition.org/mulemba/2195. Acesso em: 25 out. 2025.
ALCÂNTARA, C. Quase 80% dos que têm diploma só conseguem trabalho que não exige graduação e paga menos 2022. O Globo, Rio de Janeiro, 16 set. 2022. Disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2022/09/no-2o-trimestre-deste-ano-quase-80percent-dos-profissionais-com-nivel-superior-aceitaram-cargos-que-nao-exigem-qualificacao.ghtml. Acesso em: 25 out. 2025.
ANTUNES, R. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. São Paulo: Boitempo, 2018.
BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
BOURDIEU, P.; PASSERON, J. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Tradução de Reynaldo Bairão. 7. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2014.
BOURDIEU, P. A distinção: crítica social do julgamento. Porto Alegre: Zouk, 2001.
BOURDIEU, P. O poder simbólico. Lisboa: Difel, 1989.
BOURDIEU, P. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1996.
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Censo da Educação Superior 2020: principais resultados. 2020. Disponível em: https://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/documentos/2020/tabelas_de_divulgacao_censo_da_educacao_superior_2020.pdf. Acesso em: 25 out. 2025.
CAPES. Documento disponibilizado à CAPES apresenta desempenho e tendências na pesquisa brasileira. Brasília, DF, Notícias Capes, 17 jan. 2018. Disponível em: http://www.capes.gov.br/sala-de-imprensa/noticias/8726-documento-disponibilizado-a-capes-apresenta-desempenho-e-tendencias-na-pesquisa-brasileira. Acesso em: 25 out. 2025.
COSTA, R. da. Sociedade de controle. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 18, n. 1, p. 161-167, jan.-mar. 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/spp/v18n1/22238.pdf. Acesso em: 25 out. 2025.
DELEUZE, G. Conversações. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.
FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. Tradução de Luiz Felipe Baeta Nevas. 8 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2016.
FOUCAULT, M. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. Petrópolis: Editora Vozes, 1987.
FREIRE, F. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora Unesp, 2000.
FREIRE, F. Pedagogia do oprimido. 11. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.
HARVEY, D. Condição pós-moderna. São Paulo, Loyola, 1994.
LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
LIMA, L. Mesmo com escolaridade mais alta, profissionais de origem mais pobre crescem menos na carreira na AL. Exame, São Paulo, 11 nov. 2022. Disponível em: https://exame.com/carreira/mesmo-com-escolaridade-mais-alta-profissionais-de-origem-mais-pobre-crescem-menos-na-carreira/. Acesso em: 25 out. 2025.
LOVELUCK, B. Redes, liberdade e controle: uma genealogia política da internet. Petrópolis: Editora Vozes, 2016.
MACHADO DA SILVA, L. A. Da informalidade à empregabilidade (reorganizando a dominação no mundo do trabalho). Caderno CRH, [S. l.], v. 15, n. 37, 2006. DOI: 10.9771/ccrh.v15i37.18603.
MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã: crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas (1845-1846). Tradução de Rubens Enderle, Nélio Schneider e Luciano Cavini Martorano. São Paulo: Boitempo, 2007.
MARX, K. O capital: crítica da economia política: Livro I: o processo de produção do capital. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013. 875 p.
MEC. Sisu – Dados abertos. 2021. Disponível em: https://dadosabertos.mec.gov.br/sisu. Acesso em: 25 out. 2025.
OLIVEIRA, E. Ensino superior privado teve queda de 8,9% nas matrículas de cursos presenciais, indica pesquisa. G1, 08 jun. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2021/06/08/mesmo-antes-da-pandemia-ensino-superior-privado-teve-queda-de-89percent-nas-matriculas-de-cursos-presenciais-indica-pesquisa.ghtml. Acesso em: 25 out. 2025.
RATIER, R. Seis razões para a queda de 60% nas inscrições em universidades federais. UOL, 23 maio 2022. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/rodrigo-ratier/2022/05/23/seis-razoes-para-a-queda-de-60-nas-inscricoes-em-universidades-federais.htm. Acesso em: 25 out. 2025.
SCHRADIE, J. Ideologia do Vale do Silício e desigualdades de classe: um imposto virtual em relação à política digital. Parágrafo, v.5(1), p.85-99, jan/jun. 2017.
SETTON, M da G. J. A teoria do habitus em Pierre Bourdieu: uma leitura contemporânea. Revista Brasileira de Educação [online]. 2002, n. 20, pp. 60-70. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-24782002000200005. Acesso em: 25 out. 2025.
VELOSO, B. Organização do trabalho docente na educação a distância: implicações da polidocência no contexto da Universidade Aberta do Brasil (UAB). 2018. 214 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. Disponível em: https://repositorio.ufscar.br/items/36fef8f1-2a89-499e-b2b5-b47bbaf0f66c. Acesso em: 25 out. 2025.
VELOSO, B. Da autonomia à tecnologia: Paulo Freire como base epistemológica à pesquisa sobre educaçãoe tecnologias. In: MILL, D.; VELOSO, B.; SANTIAGO, G.; SANTOS, M. (org.). Escritos sobre educação e tecnologias: entre provocações, percepções e vivências. São Paulo: Artesanato Educacional, 2020. p. 61-75.
VELOSO, B.; MILL, D.; MOREIRA, J. A. Educação híbrida como tendência histórica: análise das realidades Brasileira e Portuguesa. Dialogia, [S. l.], n. 44, p. e23864, 2023. DOI: 10.5585/44.2023.23864.
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Martin Claret, 2013.
WEBER, Max. Economia e Sociedade. Tradução de Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa. 4. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2015. 580 p. v. 2.
ZUBOFF, Shoshana. Big Other: surveillance capitalism and the prospects of an information civilization. Journal of Information Technology, v. 30, n. 1, p. 75-89, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.1057/jit.2015.5. Acesso em: 25 out. 2025.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Revista Educação e Emancipação

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Declaração de Responsabilidade e Transferência de Direitos Autorais
Como condição para a submissão, os autores devem declarar a autoria do trabalho e concordar com o Termo de Transferência de Direitos Autorais, marcando a caixa de seleção após a leitura das cláusulas):
- Certifico que participei da elaboração deste trabalho;
- Não omitir qualquer ligação ou acordo de financiamento entre os autores e instituições ou empresas que possam ter interesses na publicação desse trabalho;
- Certifico que o texto é original isento de compilação, em parte ou na íntegra, de minha autoria ou de outro (os) autor (es);
- Certifico que o texto não foi enviado a outra revista (impressa ou eletrônica) e não o será enquanto estiver sendo analisado e com a possibilidade de sua publicação pela Revista Educação e Emancipação;
- Transfiro os direitos autorais do trabalho submetido à Revista Educação e Emancipação, comprometendo-me a não reproduzir o texto, total ou parcialmente, em qualquer meio de divulgação, impresso ou eletrônico, sem que a prévia autorização seja solicitada por escrito à Revista Educação e Emancipação e esta a conceda.

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.










